sábado, 18 de abril de 2020

PAUTA SOBRE O FILME - "VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI" - do diretor Ken Loach


PAUTA DE ENTRETENIMENTO
Pauta Cinematográfica
Cabeçalho:
Nome do redator: João Pedro Cordeiro de Oliveira (Filme) /
Data de elaboração da pauta: 01/04/2020 (Quarta-Feira)
Retranca: Entretenimento/Cinema/Filme/Crítica/Você não estava aqui/Ken Loach
Fontes: www.adorocinema.com, www.canaltech.com.br, www.oglobo.globo.com, www.brasil.elpais.com, www.wikipedia.org  ...
Tema: A Pauta se trata da resenha e de indicação de filme para se ver na quarentena, no caso, o filme escolhido pelo redator é: “ Você não estava aqui “ do diretor/cineasta britânico Kenneth “Ken” Loach e do Roteirista Indiano (Calcutá) Paul Laverty.

Histórico/Sinopse:
 Filme: “Você não estava aqui”  Título Original: Sorry We Missed You – 1h40min / Drama –
Produção: 2018 /2019
 Lançamento: 27 de fevereiro de 2020 (27/02/2020)
 Lançamento nas plataformas digitais: 01 de abril de 2020 (01/04/2020)
 Não recomendado para menores de 14 anos
Local: Newcastle (nordeste da Inglaterra)
Diretor: Kenneth “Ken” Loach (cineasta) britânico – Prêmios: Palma de Ouro (2016,2006),Prêmio do Júri, Prêmios BAFTA de Cinema: Melhor filme Britânico(2017 – Eu, Daniel Blake), Prêmio BAFTA de cinema: Melhor contribuição britânica para o cinema(1994), Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Filme...
Roteirista: Paul Laverty , Calcutá, índia
Produtor(a): Rebecca O´Brian
Outros filmes: Uma Canção para Carla(1996), Meu nome é Joe(1998), À procura de Eric( 2009) , Eu, Daniel Blake(2016)...
Distribuição: VITRINE FILMES

Sinopse: Em “Você Não Estava Aqui”, após a crise financeira de 2008, Ricky e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora. No entanto, o trabalho informal não traz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros.
Fotografia: Opta por luz natural, enquadramento repetidos dentro da casa, cores neutras e pouco excitantes, na intenção de reproduzir cansaço e a impessoalidade na qual vivem os novos operários, as cenas “felizes” e ao ar livre são bem iluminadas e coloridas.
Filmagem: Naturalista, valorizando a linguagem e os gestos das classes desprivilegiadas, à altura dos personagens.

*CUIDADO!!! Essa Resenha possui Spoilers*
Este é o mais recente filme (2019) do diretor britânico Ken Loach, cuja marca tem sido o de produzir o chamado cinema político, fortemente questionador dos efeitos que o sistema capitalista exerce sobre as pessoas em suas vidas cotidianas.
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Trata-se de uma família inglesa de classe média baixa (pai [Ricky Turner – interpretado por Kris Hitchen] mãe [Abbie – interpretada pela Debbie Honeywood], filho adolescente [Seb – interpretado por Rhys Stone] e filha com seus 10 anos [Liza Jae – interpretada pela Katie Proctor] ) em plena problemática do atual modelo de trabalho absolutamente precarizado imposto aos setores mais empobrecidos das sociedades, em que já não há mais qualquer direito, só o peso das responsabilidades do ofício.
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O pai é o protagonista. Demitido de uma fábrica, decide comprar uma van com o valor da indenização recebida e o da venda do carro da esposa, para se vincular, como “free lancer”, a uma empresa transportadora de todo tipo de mercadorias (de eletrodomésticos a comida fast food). A sua expectativa é de que em dois anos viesse a ter acumulado um capital para estabilizar o padrão de vida da sua família.
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Em pouco tempo de confronto com a realidade, o que era sonho vai se convertendo em um grande pesadelo. O serviço é absolutamente desgastante (dezenas de entregas diárias cronometradas e em meio às cidades intransitáveis); as condições de trabalho, inexistentes (almoça-se uma quentinha enquanto se dirige, urina-se em uma garrafa); insuficiente o retorno remuneratório (para ganhar um pouco mais é preciso aceitar as tarefas mais difíceis); e ainda todos os prejuízos provocados por dificuldades sofridas, pelo protagonista, no exercício de sua atividade profissional (roubo de carga, multa de trânsito, atraso na entrega, etc), são descontados da sua remuneração.
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Paralelo as dificuldades que o protagonista passa a enfrentar, e em uma relação direta com tal situação, há os problemas familiares que vão se agravando. A esposa (ela é cuidadora domiciliar de idosos e doentes), que tem que se desdobrar para atender diária e pontualmente seus pacientes, agora dependendo de ônibus para se locomover; o filho adolescente, que acaba se envolvendo em problemas na escola e com pequenos crimes, revoltado com a submissão do pai ao trabalho assumido; a filha criança que, apesar de esperta, sofre com intensos conflitos familiares.
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O ápice do filme ocorre quando o protagonista é assaltado em sua van e brutalmente espancado por uma quadrilha, no momento da entrega de uma mercadoria.  É tratado no hospital e a seguir volta para a casa para se recuperar. Os demais familiares, apesar de abalados, recompõem-se, e estão ali solidários, em um raro momento de encontro pacífico.
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Mas o expectador se engana se acredita que o filme termina aí, numa expectativa de um fio de esperança de que “dias melhores virão”, movida pela força do amor familiar. Infelizmente, não. Este não é um filme hollywoodiano onde tudo sempre acaba bem.
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O “contrato” leonino com o dono da transportadora (Malony – interpretado por Ross Brewster) exigia que o entregador repusesse, com serviços, os prejuízos do roubo das mercadorias, da quebra do aparelho portátil contabilizador (de propriedade da empresa) e dos dias que o mesmo deixou de executar suas atividades já programadas, em função da sua reabilitação.
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O protagonista, por fim, desesperado, não vislumbrando alternativas, deixa a cama, e ainda ferido, de madrugada, pega a van para ir trabalhar. Os filhos e a esposa ainda tentam impedi-lo na rua, mas em vão. Esta cena, sim, é a última do filme.
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O roteiro do filme, por si mesmo é, do início ao fim, uma forte denúncia do atual sistema capitalista centrado no modelo econômico neoliberal, o que talvez ora fosse mais apropriadamente de ser chamado modelo hiperliberal, em que a dita “lei da oferta e da procura” está sendo executada às últimas consequências, com o resultado do lucro máximo para os donos do capital através da exploração máxima dos trabalhadores.
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Contudo, pelo que se conhece da ideologia política socialista de Ken Loach, com os seus já 83 anos de idade, o mesmo não pretende ser fatalista e derrotista. Pelo contrário, este seu filme - como os seus demais anteriores que seguem na mesma linha - visa ser um “grito” aos trabalhadores a não se acomodarem e se adequarem passivamente ao modelo imposto, mas a reagirem coletivamente.
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Obs: o título do filme “Você não está aqui” somente se revela ao final, tratando-se da frase impressa no formulário entregue pela empresa transportadora aos trabalhadores para que, ali, justificassem a eventual ausência do destinatário do produto. Contudo, a frase também é um trocadilho contraditório: cabível à ausência rotineira do protagonista junto ao seio familiar, em função de todo o seu tempo a ser dedicado ao trabalho.



Classificação:
- Rotten Tomatoes: - Classificação de 87% de aprovação, com base em 117 avaliações – com uma classificação de 7,6 / 10 –
- Metacritic: - 83 em 100 com base em 26 críticos –
- Adoro Cinema: 3,5 / 5

Fotos/Vídeos/Anexos;
https://youtu.be/qqAsnupNKG8   -  Trailer Oficial Legendado